2023 foi um dos melhores anos para os vídeo jogos, mas…
Infelizmente o mundo é movido por dinheiro e especulação financeira. A maior indústria de entretenimento, depois de anos de crescimento exponencial com a pandemia, quebrou. E assim como em todas as crises econômicas, quem sofre são os trabalhadores. Até o momento da escrita deste texto cerca de dez mil funcionários foram demitidos só neste ano e segundo analistas de mercado, em 2024 terão ainda mais.
Sinto que estamos chegando em um ponto em que a indústria AAA (principalmente a ocidental) vai ficar totalmente insustentável e assim podendo “colapsar” de alguma forma. Eu fico na torcida para que se encontre um modus operandi mais sustentável e saudável para os trabalhadores da área, já que aparentemente o movimento de sindicalização dos desenvolvedores só cresce.
Este ano também ficou marcado pela quantidade obscena de jogos lançados, tanto indies quanto AAA. Essa grande quantidade de lançamentos foi ocasionado pelos adiamentos, já que muitas produções tiverem que ser reestruturadas com o distanciamento social durante a pandemia de COVID-19. Por conta disso a lista a seguir pode ter deixado de lado grandes jogos que infelizmente não tive dinheiro e/ou nem tempo pra jogar.
Lembrando mais uma vez que a lista a seguir é formada por jogos que EU joguei em 2023, não necessariamente tenham lançado em 2023.
Decepção do ano
Final Fantasy XVI (2023)
Infelizmente um dos jogos mais aguardados por mim, foi uma grande decepção. Final Fantasy XVI acabou mostrando que uma equipe formada por pessoas talentosas não necessariamente faz um jogo bom. Não quero repetir muita das críticas que esse jogo recebeu pela imprensa especializada, então vou direto aos pontos sensíveis para mim.
O primeiro ponto é o combate. Eu sou um grande fã de combate por turno e claro que eu sabia que o jogo não seria assim já que ele contou com o designer de combate de Devil May Cry 5, Ryota Suzuki. O jogo acabou servindo como prova que um jogo de 40 horas com esse tipo de combate frenético fica cansativo, repetitivo e de certa forma raso.
Outro ponto é a história, o jogo se vendeu como uma história mais “madura” para a franquia, uma fantasia adulta igual a Game of Thrones. As duas primeiras horas o jogo realmente apresenta isso, cheio de traições, violência e um mundo politicamente complexo. Após esse tempo, o jogo vira apenas mais um Final Fantasy e um dos menos interessantes.
Por fim, o que mais me incomodou é o quão raso e conservador são as discussões que a narrativa apresenta. Na história quem faz sexo é mau, as cenas de sexo estão sempre relacionadas aos vilões, e sempre representando como um ato sujo e vil. Na vez de Clive (o protagonista) é uma cena péssima, com uma metáfora pra lá de brega e tentando contrastar com as anteriores ela ter uma construção mais “pura”, nível novela da Record. A outra discussão que a narrativa faz é a respeito de escravidão, e a conclusão que a narrativa chega é… que é errado (ponto final).
Melhor pior jogo que eu joguei
The Callisto Protocol (2022)
Esse era um dos jogos mais aguardados por mim no ano passado, mas as críticas sobre ele foram tão negativas que desisti de comprar (ainda bem). O que posso dizer é que o jogo é muito bem produzido, toda ambientação e direção de arte é muito boa. Mas infelizmente na mecânica e na narrativa o jogo deixa muito a desejar.
Se você ainda tem curiosidade de jogar, recomendo esperar uma boa promoção (90% no mínimo) ou de “graça” na PS+ ou Gamepass.
Melhor jogo que eu joguei pouco
Octopath Traveller II (2023)
Joguei apenas 5 horas e com 3 dos 8 personagens, e tudo que eu tive até agora é o Final Fantasy que eu queria nos dias de hoje.
Melhor franquia desconhecida que conheci esse ano
Fear and Hunger (2018)
Graças ao vídeo do Super Eyepatch Wolf, eu conheci a desgraceira que é Fear and Hunger. O jogo é um RPG independente desenvolvido no RPG Maker e a proposta do jogo é basicamente a explorar uma dungeon com os bichos mais desgraçados que a mente humana pode criar. O que mais me atraiu nesta bizarrice foi a mistura de JRPG e Survival Horror que o jogo faz, além de ter uma arte simples e bela. Fiz pouquíssimas runs este ano e me parece o jogo perfeito para jogar em live, então quem sabe em 2024 eu jogue mais.
Menções honrosas
Como este texto é para abrir espaço para jogos que eu gostei e ainda não falei, decidi colocar aqui os jogos em que eu já escrevi um review sobre. Então para não ocupar espaço do top 5 jogos do ano, vou colocar eles aqui.
Resident Evil 4 (2023)
Você pode ler o meu review exclusivo sobre o jogo AQUI. Mas o que eu posso acrescentar é que é um dos melhores remakes já feitos na indústria. Recomendo para todos que já jogaram o original de 2005 e para quem nunca jogou o jogo, essa é a sua melhor versão.
Outro ponto que não comentei no review, já que na época não tinha saído, foi sobre a expansão Caminhos Distintos. A DLC é uma expansão de 6 horas de conteúdo por apenas 10 dólares, sendo assim ela tem uma duração maior que o remake de Resident Evil 3 (2020) e um preço 6x menor… em resumo: a Capcom só acertou com esse jogo.
Armored Core VI: Fires of Rubicon (2023)
Você pode ler o meu review exclusivo sobre o jogo AQUI. Apenas reforçando o ponto principal da minha crítica, é muito bom ver que a FromSoftware não depende exclusivamente do Hidetaka Miyazaki para bons jogos. Espero que daqui pra frente que a empresa consiga mais independência para os próximos projetos. Neste caso eles conseguiram reviver com maestria a sua série clássica e apresentar para um novo público e não ficando preso apenas em soulslike.
O top 5 de 2023
Bom, agora sim vamos para os meus cinco queridinhos que joguei esse ano.
5º - Hollow Knight (2017)
FINALMENTE consegui terminar esse jogo! E minha reação foi literalmente essa:
Realmente é o melhor buscação (metroidvania) já feito. Eu só terminei o jogo base e fico feliz que exista mais conteúdo para eu jogar enquanto não sai o Silksong.
4º - Dead Space Remake (2023)
Sim, esse jogo saiu esse ano. Ele é excelente, merece sua atenção e carinho, só que infelizmente ficou esquecido já que ele saiu em janeiro. Agora com gráficos de última geração e gameplay atualizada, me faz acreditar que Dead Space tem espaço para competir com Resident Evil. Espero que a EA se anime de alguma forma para continuar a franquia e não necessariamente refazer todos os jogos.
3º - Zelda: Tears of the Kingdom (2023)
Eu comprei o Switch em janeiro de 2019 junto com Zelda: Breath of the Wild e para mim foi uma experiência muito interessante terminar ele. Em vez de se afundar no jogo e jogar todos os dias por horas, eu joguei ele a conta gotas. Eu comecei ele quando eu comprei o Switch e só na semana de lançamento do Tears of the Kingdom (TotK) eu terminei o jogo, ou seja, foram 4 anos jogando e explorando o vasto mundo aberto.
É exatamente essa experiência que eu quero para o TotK, terminei 2023 com 20 e poucas horas e pretendo jogar aos poucos nos próximos anos, até eventualmente terminar ele.
Mas sobre o jogo em si, o que eu posso escrever é que a Nintendo acertou muito nas mecânicas novas. Agora podendo craftar as suas armas e escudos, faz muito mais sentido a existência da durabilidade das armas, além de te incentivar a explorar o mundo de maneiras criativas.
A questão técnica também merece destaque, é impressionante a performance que é tirada do Switch nesse jogo, esse vai ser um grande exemplo de otimização para a história da indústria.
2º - Unsighted (2021)
Eu estava com uma dívida enorme com o mercado nacional de jogos desde 2021. E aos 45 do segundo tempo de 2023 joguei Unsighted, simplesmente uma obra prima. O jogo mistura elementos de Zelda, soulslike e metroidvania, e sim, tudo funciona muito bem. Com uma narrativa cativante e uma corrida contra o tempo, está nas sua mãos salvar os androides e talvez o mundo.
Um dos fatores que me incentivou a finalmente jogar, foram os vídeos de desenvolvimento do próximo jogo do estúdio Pixel Punk.
Intencional ou não, os vídeos me deixaram ansioso para o próximo jogo e foi o incentivo que eu precisava para finalmente jogar para Unsighted!
Você também deveria jogar!
1º - Alan Wake II (2023)
No meu texto sobre os melhores jogos de 2022 (você pode ler AQUI), eu apontei que o gênero horror de sobrevivência (survival horror) estava esquecido pelas empresas AAA. Esquecido no quesito jogos e franquias novas, já que remakes/remasters é o que mais tem, visto os dois jogos que aparecem acima nesta lista. Mas felizmente este ano em gênero apagado de novas ideias, surgiu Alan Wake 2 com uma luz.
Eu sou fã de longa data da Remedy, lembro de jogar Max Payne nos anos 2000 e chamar o jogo de Matrix pela mecânica do bullet time e me divertir muito, mesmo sem entender nada da história. O outro jogo que me marcou muito foi o próprio Alan Wake, foi um dos primeiros jogos que comprei para Xbox 360 em 2012. Não gostei muito do gameplay na época (até hoje eu não gosto muito), mas já entendia um pouco mais de inglês e a sua narrativa me pegou bastante. Só fui ter contato com outro jogo da Remedy anos mais tarde com Control (2019) e desde então mergulhei de cabeça no universo criado pela empresa e não saí até hoje.
Depois de 13 anos de espera, finalmente Alan Wake ganha a sua continuação tão esperada. Dessa vez um horror de sobrevivência de verdade e com uma narrativa muito inspirada na primeira temporada de True Detective, que para mim é uma obra prima. A história continua os mistérios deixados pelo primeiro jogo, além de apresenta uma narrativa nova e complementar com a personagem Saga Anderson. Recomendo o jogo a todos que gostam de uma boa trama policial/investigativa.
Além de ser um respiro para o gênero de horror de sobrevivência, ele também trabalha de maneira muito criativa e cativante a sua narrativa como um todo, misturando várias linguagens artísticas. Dentro do jogo você encontra trechos dos romances escritos por Alan, temos um curta metragem de 20 minutos, músicas autorais e até um musical.
Espero que todo o esforço criativo da Remedy seja uma boa influência para o gênero e para indústria como um todo.
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